“Detox” do Ano Novo! O que é? Funciona? Existe?

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Nota Prévia: O texto que partilho abaixo é da autoria do meu amigo Pedro Pinto. Este é o seu segundo artigo no blogue. O Pedro é Licenciado em Desporto e Atividade Física (ESEV) com Pós-Graduação em Treino Personalizado (MANZ), fez o Curso de Especialização em Nutrição Desportiva (WellXProSchool) e é Licenciado em Enfermagem (ESSV). Tendo em conta a moda das dietas “detox” (principalmente nesta época do ano), julgo que este artigo vem ajudar a compreender a eventual “funcionalidade” das mesmas. Boa leitura 🙂

As dietas de “desintoxicação” (ou “detox”, se quisermos ser mais pomposos) são moda habitual da primeira quinzena de janeiro, adotadas para combater todos os “pecados” alimentares cometidos no tão conhecido “período crítico” de festividades natalícias.

Aproveitando toda a cientificidade da fonte utilizada (a qual devem consultar na íntegra), vou deixar-vos com algumas considerações que julgo serem pertinentes.

Primeiramente, e no sentido de vos possibilitar já uma resposta concreta: Não! Não resulta (do ponto de vista funcional e a longo prazo); não existe (se optarmos pela sinceridade); não tem sequer uma definição concreta.

(Sei que te apetece parar de ler por aqui, mas prometo que não te arrependerás de ir até ao fim).

Alegadamente, o conceito de “dieta detox” está associado à inclusão prioritária de alimentos com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, no sentido de libertar o organismo de todas as “toxinas” a que foi/tem sido exposto.

Em bom rigor, e apesar de todo o potencial inflamatório de alguns alimentos característicos desta época, é importante perceber que o seu consumo moderado não é letal! Se me perguntarem se é desejável, eu respondo-vos claramente que não, mas não mata! Em adição, o nosso organismo está munido de potentes sistemas de excreção e “purificação”, capazes de lidar com “ameaças” desta natureza.

(Passaste a primeira tentação de desistência e agora sabes que comer rabanadas e sonhos não mata. Assim fica difícil, concordo… Continua a leitura).

Passando às estratégias “detox” comummente utilizadas (aumento exponencial de vegetais e frutas; utilização de batidos com os alimentos atrás referidos; entre inúmeras outras), é de bom tom referir que carecem brutalmente de suporte científico credível e devidamente fundamentado. No entanto, e nas convicções de quem as pratica, elas funcionam! Como é que tal postulado é habitualmente provado e confirmado? Pela perda rápida de peso!

1. Se há algo que advogo e refiro com frequência é que perder peso não é necessariamente saudável! Perder peso não é necessariamente sinónimo de perder gordura! Perder peso diz muito, muito pouco sobre o nosso estado de saúde;

2. Este tipo de “estratégias de desintoxicação” promove, quase inevitavelmente, a diminuição da ingestão calórica (não se esqueçam que a imagem mental do “detox” é um batido carregado de verduras, fruta angelical e uma pitada de pimenta milagrosa). Desta forma, para um mesmo dispêndio energético, quanto menos calorias, mais perda de peso (ver artigo: Alimentação em Perspetiva).;

3. Grande parte da população come terrivelmente mal, durante todo o ano, sendo que o período de festividades pode ser (para alguns) somente distinguido pelo abuso nas quantidades. Assim sendo, como o esquema mental – nas dietas “detox” – está estruturado para a visualização constante do batido de espinafres, a qualidade da ingesta vai sofrer alterações drásticas (sendo menos calórica e mais nutritiva);

4. Saliente-se que, consciente ou inconscientemente, este período “detox” de “ano novo, vida nova” é grandemente caracterizado pela restrição de hidratos de carbono. Do ponto de vista fisiológico, os açúcares ingeridos resultarão, em última análise, em glicose. Como é sabido (e também para os que não sabem), o nosso organismo não armazena glicose na sua forma livre, tendo esta que ser depositada em reservatórios próprios, nos músculos e no fígado, sob a forma de glicogénio (várias moléculas de glicose juntas). Para que esta “macromolécula” se forme, é necessária água! Assim, assume-se que para armazenar cada grama de glicose, são necessárias 3 gramas de água. EURECA! Ao restringir os hidratos de carbono (consciente ou inconscientemente, como referi) diminuiremos a quantidade endógena de água, diminuindo consequentemente o peso! Saudável? Um dia conto-vos. Mas contem com uma resposta predefinida começada por “N”, com muito poucas exceções;

Resumidamente, ninguém desintoxica coisa nenhuma! Simplesmente deixam de comer determinados alimentos que inconscientemente promovem o sobreconsumo; diminuem a quantidade alimentar ingerida; aumentam o índice micronutricional da dieta – pelo aumento de vegetais e frutas – e consequentemente o bem-estar geral); diminuem o teor hídrico endógeno, diminuindo o peso… And so on…

“Então Pedro, mas isso é bom! Por que não fazê-lo?!”

Este tipo de dieta está também associado a um padrão de restrição calórica (por tudo o que foi dito) levando as pessoas a “passar fome”. Por muito que gostem do que estão a ver e a sentir, elas estão comummente em deficit energético! O grande problema é que o ser humano não está geneticamente programado para “passar fome” e não consegue manter este estilo alimentar eternamente. Consequências? Bem, com deficit energético severo e prolongado também o metabolismo diminui, ficando o organismo a funcionar em “velocidade de cruzeiro”. Aquando da saturação, as pessoas retomarão os seus hábitos alimentares anteriores, comendo precisamente aquilo que comiam! Infelizmente estas mesmas pessoas estão agora com um metabolismo mais lento do que estariam inicialmente, ganhando todo o peso perdido… e mais algum! Já alguém ouviu falar em dietas “Yo-Yo”. Aqui está a justificação.

Moral da história: preocupem-se genuinamente com o padrão alimentar e estilo de vida adotados de janeiro a dezembro, para que possam “pular o cerco” de dezembro a janeiro… sem medo, sem peso na consciência.

Com hábitos educados, a falha é exceção!

Pedro Pinto

E-mail: pedro.savvy@gmail.com

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