5 Exercícios para quem passa o dia sentado

Comecemos pelo seguinte facto: nós movemo-nos mal. Nós movemo-nos de forma contrária àquela que o nosso corpo foi desenhado. Muitas pessoas têm dores crónicas porque não compreendem como viver de forma eficiente dentro do seu próprio corpo e não há nenhum manual de instruções que possa resolver isso. Pense na sua mobilidade corporal como algo tão importante como as tarefas de higiene mais básicas que realiza todos os dias, tomar banho e/ou lavar os dentes.

Os seus hábitos de movimento vão ter um papel fundamental no funcionamento do sistema músculo-esquelético e, na verdade, em todos os outros sistemas do corpo humano. As suas dores crónicas nas costas, nos ombros, no pescoço ou nos joelhos poderão ter a ver com algo tão simples como a falta de movimento de qualidade ao longo do dia. Mesmo algo tão simples como ficar sentado o dia todo numa secretária pode alterar a sua postura e mudar a forma como se move durante a realização das tarefas diárias. E se isto for repetido durante anos a fio, as suas dores não vão melhorar e o risco de lesão crónica vai aumentar.

Portanto, na sequência do hábito que lancei para este mês Mover o Corpo venho dar algumas sugestões de exercícios para integrarem na vossa rotina de movimento. Atenção, estes exercícios não visam substituir a programação que já segue, que deverá ser feita por um profissional qualificado e que se pretende equilibrada e adequada à sua condição, mas antes complementar no sentido de ajudar a melhorar os seus hábitos de movimento. Os melhores treinadores sabem que a hora do treino é apenas uma parte do sucesso e como tal é preciso saber o que faz cada indivíduo nas restantes horas do dia.

O corpo adapta-se facilmente às forças e ao stress que aplicamos ao mesmo durante o dia todo. Ao passar o dia sentado o seu corpo vai adaptar-se e neste sentido vai perder mobilidade em regiões como as ancas, coluna torácica e ombros. A activação muscular do seu core também ficará comprometida quando está sentado. Uma das funções do core é resistir à gravidade e manter a integridade postural mas tal não se verifica quando temos as cadeiras a servir essa função. Vários grupos musculares também serão solicitados com menor frequência e enfraquecem ao longo do tempo, como os glúteos, os músculos estabilizadores das omoplatas e os músculos posteriores da coifa dos rotadores. Isto vai afectar a forma como respira, o processo digestivo e o funcionamento do sistema nervoso central, já que quando as vias sensoriais e motoras ficam comprometidas devido à inibição da musculatura da coluna, todo o sistema ficará comprometido.

É importante que faça movimentos com o objectivo de reverter a postura adoptada no dia a dia para manter o corpo equilibrado e prevenir (ou mesmo acabar) com as dores crónicas. Repare, estar sentado envolve estar predominantemente em flexão e neste sentido é especialmente relevante realizar exercícios que permitam uma activação da cadeia posterior. Obviamente que os exercícios ideais para cada pessoa deverão ser avaliados caso a caso mas aqui estão alguns que considero básicos para combater as horas que passa sentado, com base nos desequilíbrios musculares referidos acima.

1. Open Books

Comece deitado na posição de decúbito lateral com os joelhos flectidos e com os braços em extensão à frente do corpo. Mantenha os joelhos em contacto com o solo, leve um braço para o lado contrário e tente tocar com o antebraço no chão, mantendo o braço ao nível dos ombros. Quando rodar a coluna mantenha o olhar na mão. Repita em ambos os lados 2-3 séries de 10-12 repetições.

2. Alongamento Flexor da Anca

Numa posição semi-ajoelhado, mantendo a tíbia vertical e com o braço contrário à perna que está à frente em extensão, faça uma ligeira flexão lateral do tronco, contraia o glúteo da perna que está atrás e permaneça nesta posição durante 1’30’’. Repita no lado contrário.

3. Ponte de Glúteos

Deitado na posição de decúbito dorsal, com os pés à largura das ancas, faça força com os calcanhares contra o chão, contraia os glúteos e eleve as ancas para formar uma ponte de glúteos. Aguente cerca de 5 segundos em cima por cada repetição e faça 2-3 séries de 10-12 repetições.

4. Hip Hinge com Extensão dos Braços

Numa posição bípede, com os pés à largura das ancas, empurre as ancas para trás flectindo ligeiramente os joelhos, incline o tronco à frente até este ficar paralelo (ou próximo de paralelo) em relação ao chão e com os braços em extensão e polegares a apontar para o tecto. Aguente nesta posição 10-15 segundos e faça 2-3 séries de 5-6 repetições.

5. Floor Slides

Deitado na posição de decúbito dorsal, com os braços e antebraços contra o solo, deslize os braços para cima até estes ficarem em completa extensão em forma de V e mantendo as costas em contacto com o chão. Faça 2-3 séries de 10-12 repetições.

Espero que estes exercícios sejam úteis e que os ponham em prática 🙂

Até breve e bons treinos!

#Hábito 3: Mover o Corpo

Na sequência dos artigos anteriores sobre os hábitos saudáveis a criar para o presente ano (beber água e comer proteína em todas as refeições), venho propor que o próximo seja o seguinte: Mover o Corpo.

As guidelines da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a actividade física recomendam que os adultos entre os 18 e os 64 anos devem realizar pelo menos 150 minutos de exercício aeróbio moderado ou 75 minutos de exercício aeróbio de intensidade vigorosa durante a semana ou uma combinação equivalente de exercício moderado e intenso. As actividades de fortalecimento muscular devem ser realizadas envolvendo os maiores grupos musculares no mínimo de 2 vezes por semana. Para benefícios adicionais na saúde, recomenda 300 minutos de exercício aeróbio moderado ou 150 minutos de exercício aeróbio de intensidade vigorosa durante a semana ou uma combinação equivalente de ambas as intensidades.

Um aspecto que tenho vindo a referir em várias ocasiões é que a OMS e outras organizações internacionais recomendam em demasia o exercício de carácter aeróbio e têm dado menor atenção às actividades de fortalecimento muscular. Isto acontece porque a maioria da investigação científica no passado incidiu sobre o exercício aeróbio.

Um estilo de vida sedentário e passar o dia sentado é uma característica bastante comum nos dias que correm. Infelizmente, o trabalho de secretária tem-se tornado cada vez mais popular e a revolução tecnológica que temos vindo a experimentar tem contribuído também para um aumento da inactividade física. Os media adoram dizer que sentar-se é equivalente a fumar mas o problema não é sentar-se, o problema fundamental é NÃO MOVER O CORPO. Eu estou sentado neste momento (você também deverá estar) e não há problema nenhum com isso. A raíz do problema é a falta de movimento no tempo restante.

Efectivamente, os números não são muito simpáticos para quem é sedentário. A Organização Mundial de Saúde considera que a inactividade física é o quarto factor de risco para a mortalidade global e este parece ter um efeito deletério comparável ao tabagismo e à obesidade. De acordo com um estudo de 2012 publicado na revista Lancet, se a inactividade física não fosse eliminada mas diminuída em 10% ou 25%, cerca de 533 mil ou 1,3 milhões de mortes, respectivamente, poderiam ser evitadas anualmente!

De um ponto de vista evolutivo e neuromotor, nós evoluímos com o movimento do nosso corpo. Os nossos genes precisam de movimento regular para o seu desenvolvimento normal, logo a inactividade física vai causar uma diminuição da sobrevivência através da inibição de proteínas promotoras da saúde e da activação de proteínas promotoras da doença. O nosso cérebro desenvolveu-se com o objectivo de promover movimentos adaptáveis e complexos e não apenas para pensar ou sentir.

De facto, o movimento é vida e é um ingrediente fundamental para viver um estilo de vida saudável, seja com o objectivo de perder peso ou não. Hoje em dia conseguimos fazer a nossa vida sem ter que fazer actividade física, no entanto, caçar e procurar comida tem sido uma condição da vida humana durante milhões de anos. Portanto, se tivermos em conta a maior parte da nossa existência biológica, podemos constatar que passamos de um estilo de vida bastante activo para um estilo de vida bastante sedentário. Com consequências muito nefastas para a saúde.

O primeiro passo para combater o sedentarismo é mover o corpo com regularidade e de preferência com qualidade. O nosso corpo precisa de variabilidade de movimento e por esse motivo é importante levantar-se da cadeira ao longo do dia. Não é preciso fazer um protocolo de exercício formal no trabalho, levantar-se da cadeira para beber água, café ou dar uma volta no escritório para falar com alguns colegas de trabalho pode ser suficiente para começar. Mas faça-o com regularidade. Eu quando tenho que passar muito tempo na secretária, levanto-me com frequência para fazer alguns exercícios de activação / mobilidade com a finalidade de manter o corpo desperto. Como sentar-se envolve predominantemente uma postura em flexão será importante incluir exercícios de activação para a cadeia posterior e exercícios de mobilidade para as ancas e coluna torácica.

Em breve darei algumas sugestões de exercícios para integrarem na vossa rotina de movimento e melhorarem a vossa postura mas até lá não há desculpas para não praticar o novo hábito.

Até breve!

Referências

Booth FW, Roberts CK, Laye MJ. Lack of exercise is a major cause of chronic diseases. Comprehensive Physiology. 2012;2(2):1143-1211. doi:10.1002/cphy.c110025.

Global Recommendations on Physical Activity for Health. World Health Organization, 2010.

Lee I-M, Shiroma EJ, Lobelo F, Puska P, Blair SN, Katzmarzyk PT. Impact of Physical Inactivity on the World’s Major Non-Communicable Diseases. Lancet. 2012;380(9838):219-229. doi:10.1016/S0140-6736(12)61031-9.

Owen N, Sparling PB, Healy GN, Dunstan DW, Matthews CE. Sedentary Behavior: Emerging Evidence for a New Health Risk. Mayo Clinic Proceedings. 2010;85(12):1138-1141. doi:10.4065/mcp.2010.0444.

Podcast Best Training Tips – Entrevista

Hoje partilho convosco a entrevista que realizei para o podcast Best Training Tips do João Venceslau. Eu não conhecia o João mas desde logo simpatizei bastante com ele porque percebi que estamos sintonizados na nossa forma de pensar e em termos daquilo que ainda está por fazer e explorar nesta área.

Nesta entrevista falamos do meu percurso, de força (como é óbvio), de treino, de performance, daquilo que fazemos na The Strength Clinic, da programação do treino, da importância e pertinência do treino de força em doentes oncológicos (e do estudo em que colaborei), e das minhas preocupações no que diz respeito à área da Saúde e do Fitness em geral.

Este é o primeiro podcast português dedicado ao exercício / treino (parabéns ao João pela excelente iniciativa!) e espero sinceramente que venha a ser um grande sucesso.

Podem espreitar aqui o link: BTTips #8 | Pedro Correia – Treino de Força.

Espero que gostem e que passem a palavra 🙂

Até breve!